

Para que o cidadão construa a sua própria subjetividade é preciso que ele pense para além dos discursos ideológicos que o formam e que o levam a conceber a realidade conforme o pensamento de outrem. Pensar a própria linguagem, o modo como ela constrói a consciência e a realidade, é uma maneira de edificar a subjetividade de maneira livre, para além da influência ideológica. A leitura de obras literárias ― e a reflexão sobre o modo como elas constroem a realidade ― é um forma de exercitar o livre pensar.
Cabe ao formador de leitores um papel importante na prática de tal exercício e na formação da subjetividade do educando: ao escolher os textos para a leitura, ao adotar teorias literárias a facilitar o caminho da interpretação, em vez de ser mais um a propagar ideologias e contraideologias simbolicamente representadas no discurso artístico, ele deve, antes, levar o estudante a desocultar as ideologias ali presentes e notar o quanto elas interferem na formação de sua subjetividade. Esta postura possibilita a formação de cidadãos livres, edificadores da própria subjetividade, para além do pensamento alheio. Daí a nossa tese: a desocultação das ideologias no interpretar da literatura estimula os leitores ao exercício do livre‐pensar
(Trecho de Formação de Leitores e Ideologia, de Ricardo Vigna).