


A vida é uma leitura! ler é lutar! Leitura é libertação. Mas ser livre não é nada; tornar-se livre é tudo, não só em relação à sociedade, mas ao seu mundo íntimo. Liberdade é o preço da vitória, que adquirimos sobre nós mesmos.
A consciência erra menos, quando nos diz: ergue-te e voa, do que quando murmura fraca ... triste: não te canses. O homem é maior do que de ordinário ele se julga!... E não tem duas almas unidas, uma para discutir, outra para crer. A massa dos homens é essencialmente chamada para ação.... Por isso, esperar tudo do Estado, não menos que o esperar tudo de Deus, é um fenômeno patológico, é um sintoma de doença, um documento de preguiça.
O leitor brasileiro não se constituiu, foi constituído. Tudo lhe foi outorgado, como a um imenso autômato. A instrução é quase nula, porque também é nulo o gosto de instruir-se. E o exemplo vem de cima.
Os nossos escritores do dia não se dão ao trabalho de ler e meditar sobre o fundo real de qualquer obra. Repensam ideias velhas, não lhes comunicando alguma cousa que as torne mais felizes. O Brasil já faz a impressão de um menino de cabelos brancos. Estamos estragados.
Para mim, sei que seria fácil atirar-me em busca das facilidades, dizer à minha razão: não sejas curiosa, vamos aos meios... Impossível! Indigno! Quero ter o trabalho de preparar, eu mesmo, o alimento de minhas crenças, quero embebedar-me de meu próprio vinho.
A Vida é uma leitura! Ler é lutar! E o desgosto da vida não é mais do que a incapacidade de criar um ideal.
(Trecho do livro O HOMEM QUE TUDO LEU. Seleção de trechos de Tobias Barreto da coleção de 1926: BARRETO, Tobias. Vários Escritos; Estudos Alemães; Questões Vigentes. Governo do Estado de Sergipe: 1926)










